Foi em Portimão, a preparar outra prova de motociclismo, mas desta feita do outro lado da barricada e envolvido na segurança do Grande Prémio de Moto GP, como elemento da GNR, que o Capitão António Maio digeriu a vitória na categoria de Motos na Baja Portalegre 500 e o recorde de sete vitórias que alcançou na edição deste ano. “Há sempre um sentimento de querer ganhar a Baja de Portalegre. É quase um campeonato à parte e todos os pilotos sonham ganhar esta prova. Obviamente que eu não sou diferente e ganhar sempre esteve no meu horizonte. Dei tudo o que tinha, embora, verdade seja dita, com a participação no Dakar à porta, podia ter corrido muito mal. Bastava uma queda ou uma lesão para colocar em causa a participação”, confessa.
Mas o que torna afinal a Baja Portalegre 500 tão especial para os pilotos que nela participam? Para o novo recordista de triunfos, “o mediatismo em torno da prova é imenso. O próprio grau de exigência também faz parte do misticismo da Baja. É uma prova muito exigente, tanto física como psicologicamente, embora a divisão da prova em duas fases tenha ajudado a diluir este grau de exigência. O próprio público e todo o ambiente que rodeia a prova é mágico e faz parte da experiência de correr na Baja. Por fim, pela altura do ano em que se realiza, há sempre muito pó se o terreno estiver seco ou muita chuva e lama. Na edição deste ano, durante os setores seletivos não choveu tanto como se esperava, mas nas ligações fartámo-nos de apanhar água. E ainda bem que na zona sul da prova não choveu muito, porque o terreno é barrento e a chuva iria tornar a pista um autêntico pesadelo.”
Apesar de ter assumido o comando já na segunda parte da prova, António Maio não tem dúvidas onde conseguiu fazer a diferença para conquistar a vitória, numa prova muito técnica e com condições nem sempre fáceis de ultrapassar: "eu sou fiel aos meus princípios e quando os pilotos nacionais acordaram que não haveria reconhecimentos nem treinos no local eu passei a cumprir rigorosamente o acordado entre todos. A verdade é que esta decisão consciente prejudica quem cumpre. No começo da prova eu estava completamente às `escuras´ em relação ao percurso e acabei a perder mais de 1 minuto para os primeiros classificados. Mas no Setor Seletivo que incluía o trajeto Gavião-Ponte de Sor, eu já conhecia o terreno e o percurso, porque tinha feito o Raid TT Ferraria e este passava por lá. Nestas circunstâncias, recuperei imenso tempo. Mais uma vez, a dose certa de chuva tornou a pista espetacular e acabei por vencer e bater o recorde de vitórias”.
Memorável foi também a sua receção à chegada, tal como a promessa que acabou por cumprir dias mais tarde, de subir à Cruz da Penha, numa escalada de emoções difíceis de conter: "pelas caraterísticas da prova, pela dureza da mesma e pelas emoções envolvidas, tudo é vivido com mais intensidade... É normal que numa edição tão renhida, esteja tudo à flor da pele. A subida à Cruz da Penha também foi o resultado desta emoção. Eu já tinha prometido que se batesse o recorde subiria à Cruz, mesmo ao topo, equipado e tudo. Assim que terminei a prova cumpri a promessa. Agora, não escondo que não esperava que fosse tão complicado. Com o equipamento todo e o capacete colocado, o trajeto parecia uma eternidade e as escadas nunca mais acabavam...”, recorda.
Segue-se o Dakar e a certeza da experiência adquirida nas várias edições da Baja Portalegre 500 ser um excelente aliado para conseguir lutar pelos lugares cimeiros. “Tenho condições para lutar com os melhores e quem sabe não surpreendo”, confessa António Maio.